Autor: Gonçalo M.
Tavares
Título: Uma menina está
perdida no seu século à procura do pai
Género: Romance
Editora: Porto Editora
1ª edição 2014
194 Páginas
Resumo:
Gonçalo
M. Tavares tem um fascínio, cada vez mais explícito nas suas obras, pelo tempo
e pela velocidade dos acontecimentos e da vida, comprovando que um livro que
acompanha o ritmo do mundo pouco tem a oferecer. Cada livro dita uma (a sua)
velocidade de leitura e o novo romance de Tavares pede-nos “mais devagar”
porque as coordenadas quase nunca são lineares e os percursos quase sempre
entrecruzados. A velocidade não é constante (porque também não é isso que se
espera da vida), os acontecimentos distribuem-se por vários ritmos, que detêm a
nossa atenção e exigem pausas recorrentes.
O cenário é a Alemanha do
pós Segunda Guerra e nas primeiras páginas encontramo-nos com Hanna, uma menina
de quatorze anos com síndrome de Down, que acaba de ser acolhida por uma instituição.
Pouco se sabe acerca desta menina, de onde vem ou quem é, apontamentos que no
fundo se tornam absolutamente acessórios para o enredo quando a única informação
que importa ao leitor é saber que esta menina anda à procura do seu pai.
Marius, que a recebe na
instituição, vai-se responsabilizando por ela como se se assumisse um pai
substituto. A partir daquele momento tornam-se inseparáveis, acompanham-se em viagens,
aventuras e em várias casualidades que os levam a cruzar-se com muitas
personagens: Josef Berman – um fotógrafo obstinado por animais com deficiências
-; Agam a quem pediam para fazer inscrições públicas de códigos secretos. O
ofício deste excêntrico era esta estranha obsessão de guardar e revelar, ao
mesmo tempo, os segredos dos outros, desde uma pequena mensagem da amante num
objecto da sala de um senhor qualquer, até às frases veladas do sino da cidade;
Fried Samm, um de quatro irmãos que fixavam cartazes de mobilização social.
Hanna e Marius, nas
suas peripécias por Berlim, conheceram também Raffaela e Moebius, donos do
hotel, onde ficaram hospedados no quarto chamado Auschwitz. Nesse hotel
conheceram ainda Terezin, um velho que que lhes contara a história dos sete
judeus, os sete «Séculos XX». Estes sete homens tinham como função memorizar
sem qualquer falha, toda a História do século XX – levando o exercício à
exaustão - ao mais pequeno pormenor sobre tudo o que se tinha passado nos Campos
de Concentração.
Quando chegou à
instituição, Hanna trazia apenas um objecto que Marius levou a um antiquário na
expectativa que lhe revelasse alguma informação. Vitrius pouco correspondeu a
esta expectativa mas com ele ficaram a conhecer um relógio do século XIX com
dois mostradores utilizado nas fábricas de tecidos em Inglaterra. Um dos
mostradores media o tempo normal, media o tempo fora da fábrica como todos os
outros relógios, portanto não saía do mundo. Já o segundo mostrador era típico
da revolução industrial, avançava de acordo com a velocidade da roda de água
que accionava as máquinas. Se os homens não mantivessem o ritmo constante da
água, repercutia-se no ritmo das máquinas e, consequentemente, o relógio
retardava: marcava apenas o tempo do trabalho. Na verdade, a passagem do tempo
é bem mais justa se se fizer depender do nosso esforço para cumprir um
determinado objectivo. Vitrius preservava ainda uma invulgar “herança”,
iniciada pelo seu avó e continuada pelo seu pai, uma tarefa que consistia em
desenvolver sequências numéricas com intervalos de dois números.
Por sugestão de Vitrius
chegaram até Grube, um velho historiador que defendia a História como um
elemento vivo, que mudava de posição, ora acelerava, ora diminuía de ritmo, um
elemento com peso constante – uma massa que de um ponto para o outro se arrasta
ou acelera, com o centro de gravidade variável.
Uma
menina perdida no seu século à procura do pai representa,
acima de tudo, a fragilidade e a limitação que temos em encontrar identidades e
em descobrir as (nossas) raízes que nos definem e orientam. Ao mesmo tempo,
sentimos esta ânsia sôfrega de deixar marcas e rastros para que os outros nos possam
encontrar (ou até para nos que voltemos a reencontrar com nós mesmos), para que
não nos percamos num tempo que é nosso e numa colectividade à qual pertencemos.
As noções de Tempo,
Memória e História são indissociáveis entre si e principalmente entre as
personagens, são no fundo os pilares estruturais na demanda de nós mesmos -
simples objectos devir, precários e volúveis. No fundo estamos vivos apenas
para isto: aceitar o que vai acontecendo porque aconteça o que acontecer o
importante é avançar…sem nunca parar.
Estrutura do
romance
I O rosto
1.
Um
Rosto
2.
AS
fichas
3.
Um
fotógrafo de animais
II A Revolução –
Dizer Adeus
1.
O
Cartaz
2.
Fried
Samm, a Revolução
3.
Como
ajudar?
4.
Manual
de Instruções
5.
Dizer
Adeus
III O Hotel
1.
O
hotel
2.
O
quarto
3.
Os
sorrisos na rua
4.
Comer
IV Subir e
Descer
1.
Vertigens
2.
A
Visita ao Antiquarius Vitrius
3.
Dom
Quixote
4.
A
Mão
5.
Os
dois ponteiros
6.
A
descida
7.
Gritar
V O nome
1.
A
Forma do Hotel
VI a Visita
Súbita
1.
Nova
Visita a Vitrius
2.
A
Terefa da Família ( Herança)
3.
Continuar
4.
O
olho
5.
Regresso
ao Hotel
VII O Pesadelo
1.
Um
pesadelo
VIII No Hotel,
em volta do Hotel, Perdidos no Hotel
1.
Os
hóspedes
2.
Perdidos
no Hotel
3.
AS
costas
IX Procurar uma
Planta
1.
O
olho vermelho
2.
Uma
fotografia
3.
Procurando
uma planta
X Peso e Música
1.
A
Importância do Peso
2.
Um
passeio com Terezin
3.
Algumas
questões sobre bem-estar
XI Outro
pesadelo
1.
Marius
XII Sete Séculos
XX
1.
Os
Séculos XX
2.
Os
Séculos XX em Moscovo
XIII Pequenas
Palavras
1.
Olho
vermelho e o cartão
2.
Olho
vermelho, o Sino
XIV Hansel e
Gretel
1.
Deixar
Pistas
2.
Hanna
e Marius no Comboio
3.
Josef
Berman aparece
XV A fuga
1.
Esconderijo
2.
Regressar
a Berlim
3.
Nada
4.
A
Multidão, finalmente
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