domingo, 12 de abril de 2015

Uma menina está perdida no seu século à procura do pai

Autor: Gonçalo M. Tavares
Título: Uma menina está perdida no seu século à procura do pai
Género: Romance
Editora: Porto Editora
1ª edição 2014
194 Páginas





Resumo: Gonçalo M. Tavares tem um fascínio, cada vez mais explícito nas suas obras, pelo tempo e pela velocidade dos acontecimentos e da vida, comprovando que um livro que acompanha o ritmo do mundo pouco tem a oferecer. Cada livro dita uma (a sua) velocidade de leitura e o novo romance de Tavares pede-nos “mais devagar” porque as coordenadas quase nunca são lineares e os percursos quase sempre entrecruzados. A velocidade não é constante (porque também não é isso que se espera da vida), os acontecimentos distribuem-se por vários ritmos, que detêm a nossa atenção e exigem pausas recorrentes.
O cenário é a Alemanha do pós Segunda Guerra e nas primeiras páginas encontramo-nos com Hanna, uma menina de quatorze anos com síndrome de Down, que acaba de ser acolhida por uma instituição. Pouco se sabe acerca desta menina, de onde vem ou quem é, apontamentos que no fundo se tornam absolutamente acessórios para o enredo quando a única informação que importa ao leitor é saber que esta menina anda à procura do seu pai.
Marius, que a recebe na instituição, vai-se responsabilizando por ela como se se assumisse um pai substituto. A partir daquele momento tornam-se inseparáveis, acompanham-se em viagens, aventuras e em várias casualidades que os levam a cruzar-se com muitas personagens: Josef Berman – um fotógrafo obstinado por animais com deficiências -; Agam a quem pediam para fazer inscrições públicas de códigos secretos. O ofício deste excêntrico era esta estranha obsessão de guardar e revelar, ao mesmo tempo, os segredos dos outros, desde uma pequena mensagem da amante num objecto da sala de um senhor qualquer, até às frases veladas do sino da cidade; Fried Samm, um de quatro irmãos que fixavam cartazes de mobilização social.
Hanna e Marius, nas suas peripécias por Berlim, conheceram também Raffaela e Moebius, donos do hotel, onde ficaram hospedados no quarto chamado Auschwitz. Nesse hotel conheceram ainda Terezin, um velho que que lhes contara a história dos sete judeus, os sete «Séculos XX». Estes sete homens tinham como função memorizar sem qualquer falha, toda a História do século XX – levando o exercício à exaustão - ao mais pequeno pormenor sobre tudo o que se tinha passado nos Campos de Concentração.
Quando chegou à instituição, Hanna trazia apenas um objecto que Marius levou a um antiquário na expectativa que lhe revelasse alguma informação. Vitrius pouco correspondeu a esta expectativa mas com ele ficaram a conhecer um relógio do século XIX com dois mostradores utilizado nas fábricas de tecidos em Inglaterra. Um dos mostradores media o tempo normal, media o tempo fora da fábrica como todos os outros relógios, portanto não saía do mundo. Já o segundo mostrador era típico da revolução industrial, avançava de acordo com a velocidade da roda de água que accionava as máquinas. Se os homens não mantivessem o ritmo constante da água, repercutia-se no ritmo das máquinas e, consequentemente, o relógio retardava: marcava apenas o tempo do trabalho. Na verdade, a passagem do tempo é bem mais justa se se fizer depender do nosso esforço para cumprir um determinado objectivo. Vitrius preservava ainda uma invulgar “herança”, iniciada pelo seu avó e continuada pelo seu pai, uma tarefa que consistia em desenvolver sequências numéricas com intervalos de dois números.
Por sugestão de Vitrius chegaram até Grube, um velho historiador que defendia a História como um elemento vivo, que mudava de posição, ora acelerava, ora diminuía de ritmo, um elemento com peso constante – uma massa que de um ponto para o outro se arrasta ou acelera, com o centro de gravidade variável.
Uma menina perdida no seu século à procura do pai representa, acima de tudo, a fragilidade e a limitação que temos em encontrar identidades e em descobrir as (nossas) raízes que nos definem e orientam. Ao mesmo tempo, sentimos esta ânsia sôfrega de deixar marcas e rastros para que os outros nos possam encontrar (ou até para nos que voltemos a reencontrar com nós mesmos), para que não nos percamos num tempo que é nosso e numa colectividade à qual pertencemos.
As noções de Tempo, Memória e História são indissociáveis entre si e principalmente entre as personagens, são no fundo os pilares estruturais na demanda de nós mesmos - simples objectos devir, precários e volúveis. No fundo estamos vivos apenas para isto: aceitar o que vai acontecendo porque aconteça o que acontecer o importante é avançar…sem nunca parar.




Estrutura do romance
I O rosto
1.      Um Rosto
2.      AS fichas
3.      Um fotógrafo de animais
II A Revolução – Dizer Adeus
1.      O Cartaz
2.      Fried Samm, a Revolução
3.      Como ajudar?
4.      Manual de Instruções
5.      Dizer Adeus
III O Hotel
1.      O hotel
2.      O quarto
3.      Os sorrisos na rua
4.      Comer
IV Subir e Descer
1.      Vertigens
2.      A Visita ao Antiquarius Vitrius
3.      Dom Quixote
4.      A Mão
5.      Os dois ponteiros
6.      A descida
7.      Gritar
V O nome
1.      A Forma do Hotel
VI a Visita Súbita
1.      Nova Visita a Vitrius
2.      A Terefa da Família ( Herança)
3.      Continuar
4.      O olho
5.      Regresso ao Hotel
VII O Pesadelo
1.      Um pesadelo
VIII No Hotel, em volta do Hotel, Perdidos no Hotel
1.      Os hóspedes
2.      Perdidos no Hotel
3.      AS costas
IX Procurar uma Planta
1.      O olho vermelho
2.      Uma fotografia
3.      Procurando uma planta
X Peso e Música
1.      A Importância do Peso
2.      Um passeio com Terezin
3.      Algumas questões sobre bem-estar
XI Outro pesadelo
1.      Marius
XII Sete Séculos XX
1.      Os Séculos XX
2.      Os Séculos XX em Moscovo
XIII Pequenas Palavras
1.      Olho vermelho e o cartão
2.      Olho vermelho, o Sino
XIV Hansel e Gretel
1.      Deixar Pistas
2.      Hanna e Marius no Comboio
3.      Josef Berman aparece
XV A fuga
1.      Esconderijo
2.      Regressar a Berlim
3.      Nada
4.      A Multidão, finalmente


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