Autor: Lev Tolstoi
Título: A Morte de Ivan Ilitch
Editora: Quasi edições
Género: Romance
Edição: 1ª edição 2008
91páginas
Resumo:
O livro abre com a notícia do falecimento de Ivan Ilitch
Golovine, a 4 de Fevereiro de 1882, com quarenta e cinco anos, anúncio feito,
oficialmente, pela sua mulher Prascovia Fiodorovna Golovine. Nos capítulos
seguintes, o leitor vai desenrolando, retrospectivamente, a história deste
conselheiro do Tribunal da Relação. Ivan era o segundo de três filhos de Ilia
Efimovitch Golovine, um membro inútil de várias administrações públicas
igualmente inúteis. Descrito como a ave rara da família, era menos frio, menos
meticuloso do que o irmão mais velho e menos arrebatado do que o mais novo. Por
ser este meio termo entre os dois era um homem inteligente, hábil activo,
agradável e correcto, tendo sido brilhante aluno na Escola de Direito, um homem
bem dotado, alegre, sociável, que cumpria sempre com rigor o que entendia ser
seu dever, comme il faut. Este retrato deixa-nos convictos de que esta
personagem terá sempre o sensatez e clarividência para as intempéries e agruras
que se avizinham na sua vida. Desenganemo-nos.
Dizer que Ivan Ilitch se casou por se ter apaixonado pela
noiva e por ter constatado que os gostos dela concordavam perfeitamente com os
seus, teria sido tão inexacto como afirmar que se casara pelo facto das pessoas
da sua roda aprovarem essa união. Durante os primeiros tempos a relação parecia
correr bem, até a mulher se tornar cada vez mais irritável e exigente,
culpando-o por todas as desgraças que lhes iam acontencendo, facto que levava
Ivan a ser cada vez mais focado e ambicioso no trabalho. O casal foi
construindo reverenciais circulos sociais, conheciam a melhor sociedade,
recebiam as personagens mais importantes e conheciam sempre gente nova,
disfarçando assim o distanciamento e o vazio que se ia interpondo entre eles.
Desta forma, iam descendo a encosta julgando estar a subi-la.
Certo dia, Ivan Ilitch confronta-se com uma doença incurável
e com a inevitabilidade da morte, situações fracturantes que obrigam qualquer
um a repensar prioridades, revalorizar determinados objectivos e a purgar o
passado e as suas escolhas pessoais.
Tolstoi converte este lugar comum em páginas plenas de densidade
existencial, numa busca ávida pela explicação de uma agonia tão inalienável
quanto idónea: “Ivan Ilitch via que ia morrer e estava desesperado. No fundo da
sua alma, estava bem certo de que ia morrer mas não só era incapaz de se afazer
a essa ideia, não a compreendia sequer, era incapaz de a compreender”. O
silogismo que aprendera no manual de lógica de Kieseweter - Caio é homem, os
homens são mortais, logo Caio é mortal - não o satisfazia, porque afinal a exactidão
só interessa no caso de Caio ou de qualquer outro que não seja ele. Na verdade,
o que atormentava Ivan, além da mentira, era que ninguém o lamentava como ele
queria ser lamentado. Sabia que era membro do Tribunal da Relação mas tinha
vontade que lhe fizessem festas, o beijassem, chorassem ao pé dele, como se
acariciam e se consolam as crianças: «mas se é assim – disse de si para si – e
se eu deixo a vida com o sentimento de ter perdido, tendo destruído tudo o que
me tinha sido dado, se é irreparável, então...». Aspirou o ar profundamente,
não acabou a aspiração inteiriçou-se, sincopadamente, e morreu.
PALAVRAS-CHAVE: Agonia, finitude, arrependimento,
retrospectiva

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