domingo, 12 de abril de 2015

O filho de mil homens

Autor: Valter Hugo Mãe
Tìtulo: O filho de mil Homens
Editora: Alfaguara
Género: Romance
257 páginas
1ªedição 2011.




Resumo:
“Sei bem que sou filho de mil homens e mais mil mulheres  e queria muito ser pai de mil homens e mais mil mulheres”, afirma o autor na sua nota final do livro. Ao longo de vinte curtos capítulos, vai-se intensificando, complexificando e modalizando o desejo de paternidade, questionado muito além da necessidade ou hedonísmo de perpetuação do indivíduo, muito além da obsessão de prolongar uma memória “nossa”, muito além da naturalidade, da inevitabilidade ou impossibilidade do fenómeno.
Era uma vez um Homem que chegara aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho, via-se metade quando olhava ao espelho e acreditava que o afecto verdadeiro era o único desengano, a grande forma de encontro e de pertença, a grande forma de família. Crisóstemo pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende e talvez por isso tenha encontrado certo dia um menino na ponta do mundo, quase a perder-se, sem saber como se segurar e sem conhecer o caminho. A partir daquele momento, Camilo tornara-se seu filho, a quem dera como ponto de partida a certeza de que quem tem menos medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz.  E a sua felicidade para sempre começara naquele dia.
Em analepse o leitor vai conhecendo individualmente todas as personagens nos seus contextos e nas suas circunstâncias, acima de tudo, nas suas limitações e impossibilidades: a anã era a mãe de Camilo, que morrera assim que ele nascera mas que lutara até ao fim pela viabilidade daquela gravidez; o Alfredo era o pescador que reclamara a criança como neto, viúvo de Carminda que, por sua vez, nunca superara o desgosto de ter perdido um filho; Isaura era filha de Maria, jovem que aos 16 anos se desencantara num primeiro relacionamento e que mais tarde viera arrebatar o coração de Crisóstemo. Porém, na história entra ainda o filho de Matilde, Antonino, que estava prometido a Isaura porque sendo homossexual queria esconder essa sua natureza dos olhares infâmes dos outros. Acima de tudo, Antonino encontrara um modo de regressar à mãe, voltar ao interior onde tudo se imagina e renasce perdoado já que os filhos perdoados voltam a ser perfeitos e Isaura conformara-se pensando que a felicidade é ser o que se pode. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar o impossível porque a verdade é esta: a felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser. Se os felizes eram aqueles que aceitavam ser o que podiam, conseguiam aceder à estabilidade, saber com o que contar, ter as contas feitas acerca dos afectos e das expectativas.
Os afectos de Crisóstemo e Camilo outorgam coesão a todas as outras personagens, coerência aos capítulos, cerzindo a mensagem geral da obra: o amor é uma atitude, uma predisposição natural para se ser a favor de outrém, uma predisposição natural para se favorecer alguém. O Homem mesmo que não se torne no dobro dele próprio ao menos será um homem por inteiro e é por isso desistir de um filho seria como desistir do melhor de nós próprios. Cada filho somos nós no melhor que temos para dar. No melhor que temos para ser.

Aos quarenta anos, Crisóstemo com o seu inusitado entusiasmo mudou o mundo, porque quem tanto pede o que lhe pertence assim o mundo convence, afirma convictamente que “somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós”. Camilo sorriu e retorquiu: não compreendo nada, só queria dizer que gosto da Teresa e gostava de arranjar uma namorada para sempre.” Pareciam-se e comunicavam entre si pela intensidade dos sentimentos e assim tinham inventado uma família.

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