Autor: Valter Hugo Mãe
Tìtulo: O filho de mil Homens
Editora: Alfaguara
Género: Romance
257 páginas
1ªedição 2011.
Resumo:
“Sei
bem que sou filho de mil homens e mais mil mulheres e queria muito ser pai de mil homens e mais
mil mulheres”, afirma o autor na sua nota final do livro. Ao longo de vinte
curtos capítulos, vai-se intensificando, complexificando e modalizando o desejo
de paternidade, questionado muito além da necessidade ou hedonísmo de
perpetuação do indivíduo, muito além da obsessão de prolongar uma memória
“nossa”, muito além da naturalidade, da inevitabilidade ou impossibilidade do
fenómeno.
Era
uma vez um Homem que chegara aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter
um filho, via-se metade quando olhava ao espelho e acreditava que o afecto
verdadeiro era o único desengano, a grande forma de encontro e de pertença, a
grande forma de família. Crisóstemo pensava que quando se sonha tão grande a
realidade aprende e talvez por isso tenha encontrado certo dia um menino na
ponta do mundo, quase a perder-se, sem saber como se segurar e sem conhecer o
caminho. A partir daquele momento, Camilo tornara-se seu filho, a quem dera
como ponto de partida a certeza de que quem tem menos medo de sofrer, tem
maiores possibilidades de ser feliz. E a
sua felicidade para sempre começara naquele dia.
Em
analepse o leitor vai conhecendo individualmente todas as personagens nos seus
contextos e nas suas circunstâncias, acima de tudo, nas suas limitações e
impossibilidades: a anã era a mãe de Camilo, que morrera assim que ele nascera
mas que lutara até ao fim pela viabilidade daquela gravidez; o Alfredo era o
pescador que reclamara a criança como neto, viúvo de Carminda que, por sua vez,
nunca superara o desgosto de ter perdido um filho; Isaura era filha de Maria,
jovem que aos 16 anos se desencantara num primeiro relacionamento e que mais
tarde viera arrebatar o coração de Crisóstemo. Porém, na história entra ainda o
filho de Matilde, Antonino, que estava prometido a Isaura porque sendo
homossexual queria esconder essa sua natureza dos olhares infâmes dos outros.
Acima de tudo, Antonino encontrara um modo de regressar à mãe, voltar ao
interior onde tudo se imagina e renasce perdoado já que os filhos perdoados
voltam a ser perfeitos e Isaura conformara-se pensando que a felicidade é ser o
que se pode. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer
aspirar o impossível porque a verdade é esta: a felicidade é a aceitação do que
se é e se pode ser. Se os felizes eram aqueles que aceitavam ser o que podiam,
conseguiam aceder à estabilidade, saber com o que contar, ter as contas feitas
acerca dos afectos e das expectativas.
Os
afectos de Crisóstemo e Camilo outorgam coesão a todas as outras personagens,
coerência aos capítulos, cerzindo a mensagem geral da obra: o amor é uma atitude,
uma predisposição natural para se ser a favor de outrém, uma predisposição
natural para se favorecer alguém. O Homem mesmo que não se torne no dobro dele
próprio ao menos será um homem por inteiro e é por isso desistir de um filho
seria como desistir do melhor de nós próprios. Cada filho somos nós no melhor
que temos para dar. No melhor que temos para ser.
Aos
quarenta anos, Crisóstemo com o seu inusitado entusiasmo mudou o mundo, porque
quem tanto pede o que lhe pertence assim o mundo convence, afirma convictamente
que “somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos
que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós”. Camilo sorriu e
retorquiu: não compreendo nada, só queria dizer que gosto da Teresa e gostava
de arranjar uma namorada para sempre.” Pareciam-se e comunicavam entre si pela
intensidade dos sentimentos e assim tinham inventado uma família.
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