Autor: Hermann Hesse
Título: Siddhartha
Editora: LeYa
Género: Romance
153 páginas, 2011
Resumo:
O nobel alemão Hermann Hesse
presenteia-nos com Siddhartha (1922), um romance que coloca a tónica no
dualismo da vida activa e da atitude contemplativa, numa constante dialéctica
de questionação das escolhas e dos caminhos, na esteira da celebração de um
certo misticismo oriental. O leitor vai viajando, nestas páginas sinestésicas,
pelos labirintos e complexidades da alma humana do protagonista, nascido na
Índia, no século VI a.C.
Siddhartha é filho de um brâmane e
cresceu isolado das misérias do mundo, gozou de uma existência calma e de uma
vida luxuosa, até ao momento em que decidiu abdicar de tudo isso, para se
envolver e iniciar numa viagem existencial, na senda da descoberta das (suas)
verdades. O livro começa com a sagacidade de um jovem que procura ficar vazio
de sede, vazio de desejo, vazio de sonho, vazio de alegria e de tristeza pois
acreditava que esvaziando um Eu dominado por impulsos e inclinações, poderia fazer emergir o mais
profundo do Ser. Juntamente com o seu amigo Govinda, desprende-se das amarras
circunstanciais, disposto a beber de preceitos sábios e de doutrinas
irrefutáveis. Nesta caminhada, as escolhas dos dois samanas divergem e seguem,
por isso, rumos diferentes.
Siddhartha sempre honrara 3
directrizes norteadoras - Jejuar, Esperar e Pensar - e movido pela avidez e
insatisfação das doutrinas cruza-se com várias pessoas que lhe vão dar a
conhecer um outro lado da vida e do mundo, diametralmente opostos daqueles que
ele conhecia. Com Kamala, o Brâmane conhecera os prazeres do corpo e dos
sentidos, sem nunca se entregar à cortesã inteiramente; com Kamaswami, um
afamado comerciante, aprendera a agradar a cobiça e a ganância sem nunca se
deixar levar por elas, ou pelo menos acreditando nessa ilusão. No entanto, o
tempo revelou-lhe o contrário pois ninguém é incorrompível até ser tentado e
Siddhartha deixara-se deslumbrar, deixa-se seduzir por aquelas que eram as
efemeridades da vida.
Certo dia, chegando próximo de um
rio viu reflectido na água o vazio da sua alma e nesse momento, percebendo que
a sua vida se tinha esgotado, quis entregar-se à morte como quem quer parar o
fluir perene do tempo e da vida. De repente, ouve reverberar dentro de si um
«Om» sagrado que tanto significa «Completo» como «Perfeito» e que desperta o
seu espirito entorpecido. Nas margem desse rio conhece Vasudeva, o barqueiro,
com quem durante os anos seguintes convive e aprende. Os anos foram passando
sem que ninguém os contasse e por altura da morte de Buda, o Sublime, na hora
da sua passagem para a liberdade eterna, Kamala dirige-se com o seu filho, para
o lugar onde estava a morrer o Santo agora moribundo. Entretanto, Kamala é
mordida por uma cobra e morre nos braços de Siddhartha, que rapidamente
reconhece no menino da cortesã, o seu filho. Com este filho Siddhartha inicia
nova viagem, agora pela incondicionalidade de um sentimento sem reciprocidade
mas que ainda assim lhe mostra o sentido real da vida.
O
livro encerra com um reencontro e com uma conversa profunda de Siddhartha com o
seu amigo de sempre Govinda, no reflexo um do outro reconhecem as suas próprias
escolhas, tendo o rio como pano de fundo, esse rio que é reminiscência e
lembrança de que nunca nos banhamos duas vezes na mesma água. Siddhartha
confessa-se e assume que o contrário de qualquer verdade é tão verdadeiro
quanto essa mesma verdade e que tudo é metade, em tudo falta a totalidade,
integralidade e unidade. O Mundo sempre se dividira em Sansara e Nirvana,
ilusão e verdade, sofrimento e libertação. O brâmane percebera que a sua imensa
avidez e amor por tudo, o distanciaram do equilibrio, dispersaram-no de um
foco. Foi preciso cometer muitos pecados e tantas loucuras, enfrentar misérias,
desilusões e sofrimentos para poder recomeçar: afinal a viagem mais sagrada e
regenedora do Homem é sempre aquela que o leva por um périplo a interior, na
descoberta de si mesmo.
Palavras-Chave:
misticismo oriental, vida activa versus atitude contemplativa, libertação, equilíbrio.
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