domingo, 12 de abril de 2015

A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile

Autor: Gabriel Garcia Márquez
Título: A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile
Editora: Publicações D. Quixote – LeYa
Género: Reportagem literária
Lisboa 2000
186 páginas







Resumo

Gabriel Garcia Márquez que instituiu o “realismo mágico” mostra nesta sua reportagem literária um espírito jornalistico aguçado, uma curiosidade insatisfeita, um civismo inconformado e uma sensibilidade estética inigualável. O nobel columbiano nunca deixou de representar com realismo literário as realidades político-sociais que lhe eram próximas e que consequentemente nos aproximam a todos. Não se é escritor apenas para criar universos ficionais mas também para se dar novos imaginários à realidade. Esta é a tentativa de Miguel Littin, um dos cinco mil exilados em 1985 com proibição absoluta de regressarem à sua terra. No entanto, não há nada que impere sobre a vontade e este clandestino volta ao Chile através artes clandestinas num conluio de vários envolvidos, durante seis semanas com o intuito de filmar sete mil metros de película. Na verdade, esta demanda, que representa um retorno interior às lembranças, vai constituir uma viagem cinematográfica pela sua vida, pelas suas memórias e identidades pois nenhuma viagem pode ser mais enriquecedora do que a procura pelo que se foi.
“Pelo método de investigação e pelo carácter do material, A Aventura de Miguel Littin é acima de tudo uma reportagem, assume o autor”, que narra sempre na primeira pessoa de forma a tornar audível a voz do clandestino pelas suas palavras. Assim se cruzam duas vozes que escrevem a quatro mãos histórias e peripécias que tornam estas páginas vibrantes e envolventes, numa densidade emocional facilmente tangível pelo leitor. Também não passa despercebido ao leitor todas as mágoas que Miguel vai revivendo, em permanente exercicio de alteridade, ditado pela exigência de ter se ser outra pessoa, pela necessidade de aprendizagem de comportamentos, posturas. A par, este clandestino vai tendo de administrar as muitas desilusões, percebendo que os anos foram longos e devastadores não só para os que partiram mas também para os que ficaram. Constatou por dentro o reverso do milagre chileno, patrocinado pela Junta militar sob inspiração celestial da Escola de Chicago, que querendo dar aparência imadiata de prosperidade desnacionalizou tudo o que Allende tinha nacionalizado, vendendo o país ao capital privado e às multinacionais. Sabe-se que em cinco anos as importações foram maiores do que nos duzentos anos anteriores, a dívida externa do Chile, que no último ano de Allende era de quatro mil milhões de dólares era agora de quase de vinte e três mil milhoes. Mundividências maniqueístas e quase inverosímeis não eram as ficionadas no seu filme mas as que a realidade revelava, o grito era feito pelas poblaciones em uníssono: «não nos importa a casa nem a comida, mas sim que nos devolvam a dignidade, a única coisa que nos tiram é a voz e o voto.

Assim, trinta e dois mil e duzentos de película, ao fim de seis meses de montagem em Madrid ficaram reduzidos a quatro horas para televisão e duas para cinema. A Miguel Littin ficou-lhe a consciência de que a nova geração se encontrava empenhada, sem pressas nem barulho, em libertar o Chile do desastre militar e que apesar de tenra idade, todos tinham mais do que uma visão de futuro, tinham um passado de façanhas incógnitas e vitórias ocultas, que levam guardadas no coração de um grande modéstia. Também por isso, este não foi o feito mais heróico da sua vida, como esperava, mas foi o mais digno, resgatou à contraluz uma identidade que levara para fora do Chile, à sombra de tudo o que vivera. 

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