domingo, 12 de abril de 2015

Fernando Pessoa, o desconhecido de si mesmo

Autor: Octavio Paz
Título: Fernando Pessoa, o desconhecido de si mesmo
Género: Ensaio Literário
Editora: Vega, 2ª edição
42 páginas, 1961, escrito em Paris



Resumo: O nobel mexicano (1990) é um escritor versátil nos vários géneros literários, seja poesia, ensaio ou romance, e laureado pela crítica pela forma lúcida e assertiva com que se dedica à escrita vanguardista, com preferência vincada para a função poética da Linguagem. Neste ensaio, o autor demonstra um interesse e conhecimento profundos por Fernando Pessoa, aproveitando a figura, a vida e obra do escritor português, nas suas complexidades e polimorfismos, para reflectir sobre a construção da identidade, nesta dialéctica entre realidade e ficção. Paz revisita criticamente as obras pessoanas, da poesia à prosa, dos heterónimos ao ortónimo, passando pelas tendências patrióticas, pagãs, estóicas, futuristas, simbólicas, e esotéricas. O tema da alienação e da busca de si mesmo, é mais do que um topos: é a substância de toda a obra de Fernando Pessoa. Assim, ao se procurar, inventou-se. Como ponto de partida, este ensaio começa por recordar que Pessoa (persona) quer dizer personagem, a máscara dos actores romanos, a capacidade de se ser ninguém de todas as formas.
            A biografia minuciosa de Pessoa depara o leitor com a viagem entre a irrealidade da sua vida quotidiana e a realidade das suas ficções – Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Ricardo Reis, Mr Cross, Alexander Search, entre outros. No entanto, fracasso foi também uma palavra inscrita na vida do escritor português, até as suas paixões foram imaginárias, conhecendo-se apenas um breve enamoramento pela empregada de comércio de quem se despede em carta com as seguintes palavras: “o meu destino pertence a outra Lei de cuja existência a Ofelinha, nem sabe”. O nobel sugere, implicitamente, uma homossexualidade, que legitima de certa forma a contenção amorosa, sabendo-se que o seu grande vício era a imaginação, depois mesmo do álcool. “Anglómano, míope, cortês, fugidio, vestido de escuro, reticente e familiar, cosmopolita que predica o nacionalismo, investigador solene de coisas fúteis, humorista que nunca sorri e nos gela o sangue, inventor de outros poetas e destruidor de si mesmo, autor de paradoxos claros como a água, e como ela, vertiginosos: fingir é conhecer-se, misterioso que não cultiva o mistério, misterioso como a Lua do meio-dia, taciturno fantasma do meio-dia português, quem é Pessoa?” são as palavras iniciais de Octavio Paz neste seu ensaio.
            O seu interesse por Pessoa prende-se nas sombras e na obscuridade do quase anonimato e da quase celebridade, pois ninguém ignora o nome de Fernando Pessoa mas poucos sabem quem é ele verdadeiramente. As suas aparições são espasmódicas e o seu trabalho solitário é uma constante. Membro de um grupo de vanguarda, visionário e futurista – Orpheu -, Pessoa colabora em 1922 numa revista literária Contemporânea com o Banqueiro Anarquista, entregando-se a um jogo de veleidades políticas e mais tarde com a Mensagem faz uma interpretação ocultista e simbólica da História Portuguesa. Há algo terrivelmente soez, vil e torpe numa sociedade moderna na qual as pessoas toleram todo a espécie de mentiras da vida real, toda a espécie de realidades indignas e não suportam a existência da fábula, que é mera ficção. Escrevemos para ser o que somos ou para ser aquilo que não somos mas num e noutro caso buscamo-nos a nós mesmos não esquecendo que a ausência não é só privação de algo mas o pressentimento duma presença que nunca se mostra inteiramente. Ficam-nos as obras pessoanas como consciência dessa ausência aguda e da iminência do desconhecido e do desconhecimento de nós mesmos. 

PALAVRAS-CHAVE: Identidade, Análise crítica, Realidade vs Ficção, Fuga e Alienação.


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