Autor: Octavio Paz
Título: Fernando Pessoa, o desconhecido de si mesmo
Género: Ensaio Literário
Editora: Vega, 2ª edição
42 páginas, 1961, escrito em Paris
Resumo: O nobel mexicano (1990) é um escritor versátil
nos vários géneros literários, seja poesia, ensaio ou romance, e laureado pela
crítica pela forma lúcida e assertiva com que se dedica à escrita vanguardista,
com preferência vincada para a função poética da Linguagem. Neste ensaio, o
autor demonstra um interesse e conhecimento profundos por Fernando Pessoa,
aproveitando a figura, a vida e obra do escritor português, nas suas
complexidades e polimorfismos, para reflectir sobre a construção da identidade,
nesta dialéctica entre realidade e ficção. Paz revisita criticamente as obras
pessoanas, da poesia à prosa, dos heterónimos ao ortónimo, passando pelas
tendências patrióticas, pagãs, estóicas, futuristas, simbólicas, e esotéricas.
O tema da alienação e da busca de si mesmo, é mais do que um topos: é a
substância de toda a obra de Fernando Pessoa. Assim, ao se procurar,
inventou-se. Como ponto de partida, este ensaio começa por recordar que Pessoa
(persona) quer dizer personagem, a máscara dos actores romanos, a
capacidade de se ser ninguém de todas as formas.
A biografia
minuciosa de Pessoa depara o leitor com a viagem entre a irrealidade da sua
vida quotidiana e a realidade das suas ficções – Álvaro de Campos, Alberto
Caeiro, Bernardo Soares, Ricardo Reis, Mr Cross, Alexander Search, entre outros. No entanto, fracasso foi também uma
palavra inscrita na vida do escritor português, até as
suas paixões foram imaginárias, conhecendo-se apenas um breve enamoramento pela
empregada de comércio de quem se despede em carta com as seguintes palavras: “o
meu destino pertence a outra Lei de cuja existência a Ofelinha, nem sabe”. O
nobel sugere, implicitamente, uma homossexualidade, que legitima de certa forma a contenção amorosa, sabendo-se que o seu grande vício era a imaginação,
depois mesmo do álcool. “Anglómano, míope, cortês, fugidio, vestido de escuro,
reticente e familiar, cosmopolita que predica o nacionalismo, investigador
solene de coisas fúteis, humorista que nunca sorri e nos gela o sangue,
inventor de outros poetas e destruidor de si mesmo, autor de paradoxos claros
como a água, e como ela, vertiginosos: fingir é conhecer-se, misterioso
que não cultiva o mistério, misterioso como a Lua do meio-dia, taciturno
fantasma do meio-dia português, quem é Pessoa?” são as palavras iniciais de
Octavio Paz neste seu ensaio.
O seu
interesse por Pessoa prende-se nas sombras e na obscuridade do quase anonimato
e da quase celebridade, pois ninguém ignora o nome de Fernando Pessoa mas
poucos sabem quem é ele verdadeiramente. As suas aparições são
espasmódicas e o seu trabalho solitário é uma constante. Membro de um grupo
de vanguarda, visionário e futurista – Orpheu -, Pessoa colabora em 1922 numa revista literária Contemporânea
com o Banqueiro Anarquista, entregando-se a um jogo de veleidades
políticas e mais tarde com a Mensagem faz uma interpretação ocultista e
simbólica da História Portuguesa. Há algo terrivelmente soez, vil e torpe numa
sociedade moderna na qual as pessoas toleram todo a espécie de mentiras da vida
real, toda a espécie de realidades indignas e não suportam a existência da
fábula, que é mera ficção. Escrevemos para ser o que somos ou para ser aquilo
que não somos mas num e noutro caso buscamo-nos a nós mesmos não esquecendo que
a ausência não é só privação de algo mas o pressentimento duma presença que nunca se
mostra inteiramente. Ficam-nos as obras pessoanas como consciência dessa
ausência aguda e da iminência do desconhecido e do desconhecimento de nós
mesmos.
PALAVRAS-CHAVE:
Identidade, Análise crítica, Realidade vs Ficção, Fuga e Alienação.
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