Autor: Truman Capote
Título: Boneca de Luxo (título original Breakfast at Tiffany’s)
Género: Romance
Editora: Colecção Mil Folhas
2002
95
páginas
Deus quando nos
quer castigar dá-nos tudo o que desejamos
Truman Capote
Considerada por muitos a obra
mais feliz e agradável da actividade literária de Truman Capote, e que ganhou
vida na tela cinematográfica com a icónica e inigualável Andrey Hepburn, a Boneca de Luxo oferece um cenário
divertido, fascinante, epónimo de Holly Golightly, uma menina-mulher misteriosa. Holly é lembrada pelo narrador num tom quente e apaixonado, descrita
pela sua silhueta elegante e apetecível de uma mulher arrebatadora, que
enreda e marca todos aqueles que se cruzam com ela. O narrador é um homem maduro
de 67 anos que não foi indiferente aos seus encantos, tendo acompanhado de perto as
suas irreverências, tornando-se cúmplice dos seus desejos e desaires e talvez
por isso a descreva de forma tão soberba e irresistível. Para muitos esta
protagonista era uma “vil impostora”, “uma exibicionista indecente”, uma mulher
de vícios públicos e privados, galanteada por homens mais velhos, avessa a
moralidades mas Holly consegue ser muito mais do que isso, cheia de nuances e
subtilezas, ingénua e naive. Mostra-se aos olhos do leitor uma jovem de 21
anos, aparentemente frágil e atreita a aventuras e expedientes, com hábitos
sociais pouco ortodoxos mas ao mesmo tempo uma mulher independente e segura,
com um je ne sais qua que a torna
fascinante, complexa e inalcançável.
Descobrimos a meio do romance que
Holly era afinal Lulamae Barnes, órfã de pais e que com apenas catorze anos se
envolvera com um texano mais velho e pai de quatro filhos, que lhe garantira
uma vida estável e abastada. Porém, tudo isto não foi o bastante para impedir que ela fugisse um dia à procura de outros sonhos. Lulamae manifesta, na sua relação com os outros, uma
puerilidade e ingenuidade que retiram gravidade aos cenários mais turbulentos em que se envolve mas sem subtrair, no entanto, a densidade dramática e emocional das cenas. Como justificação da sua fuga da casa de Doc, Holly afirma que na vida nunca nos devemos
apaixonar por animais selvagens nem confiar-lhes o coração, pois quanto mais
lhes damos mais fortes eles ficam. Quem se apaixona por um animal selvagem
acaba olhando para o céu porque chegará sempre o dia em que ele voará. Ainda
assim é preferível olhar para o céu e desejá-lo ardentemente do que viver com ele. Mesmo tendo
sido abandonada pelo homem com quem iria casar e de se ter envolvido num
processo mediático de tráfico de droga, Holly vivera sempre destemidamente a sua
frescura e jovialidade no recomeço de novas histórias. Em liberdade condicional foge para o Rio de Janeiro com a conivência do narrador, que nunca mais ouviu
falar dela. O escândalo ao qual esteve associada tornara-se um
mero fait-divers e Holly partira, sem culpas ou expectativas, com a lista dos 50 homens mais ricos do Rio. Seguramente
terá continuado a fazer o deleite e o fascínio daqueles homens que procuram sempre, sem possuir, uma Boneca de Luxo.
Palavras-Chave: Liberdade, Mulher, Fascínio, Luxo
e Luxúria, Burguesia
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