Autor: Antonio Tabucchi
Título: O fio do Horizonte
Editora: LeYa
Género: Romance policial
Edição: 1ª edição 2014 <1986
100 páginas
Resumo:
“O fio do
horizonte é um lugar geométrico, porque se desloca à medida que nós nos
deslocamos com ele. Gostaria muito que por um sortilégio o meu personagem o
tivesse alcançado porque também ele o tinha no olhar”, confessa Tabucchi, no
paratexto, em nota à margem do livro. E este seu personagem era Spino, um
médico legista, uma espécie de companheiro derradeiro, um tutor a posteriori
impassível e objectivo, procurando, incansavelmente, a resposta para a
distância que separa os vivos dos mortos.
A acção
passa-se numa cidade italiana, que nunca nos é revelada, mas sabemos que é
costeira e que tem o mar como pano de fundo, cuja presença é assídua e
permanente nas cogitações, incógnitas e investigações de Spino, não só enquanto
símbolo de uma vastidão impossível de abarcar como metáfora de uma imensidão
impossível de descodificar e compreender. Os 20 pequenos capítulos encerram descrições
minuciosas, fechadas numa acção que teima em se tornar estática, num enredo que
teima em andar em contratempo sem nunca encontrar as informações satisfatórias
e esclarecedoras o bastante, tal como a exacta medida da morte, sem pressa mas
inexorável.
Um misterioso
assassinato, um corpo desconhecido e incógnito que chega à morgue de Spino e do
seu ajudante Pasquale, uma morte noticiada anonimamente no jornal Gazzetta
del Mare e tolhida de todas as demais informações, despertam a
curiosidade do médico legista e do seu amigo jornalista Corrado. Spino sente
uma vontade crescente e inexplicável de reconstituir o fio do crime de Kid,
assim vulgarmente chamado mas conhecido também por Carlo Nobodi, um nome
igualmente falso, tirado do inglês «nobody». Porquê esta ânsia existencial pela
descoberta do mistério? «Porque ele está morto e eu estou vivo», responde-nos
Spino, rapidamente. Mas quem é este morto? Um isco inconsciente? Um isco
conivente e conveniente? Um pobre tonto? Um tipo que não tinha nada a ver? Uma
testemunha incómoda? Ou qualquer outra coisa ainda? Podia tratar-se de
terrorismo, vinganças, jogadas, histórias secretas, chantagens mas Spino e o
leitor nunca chegam a saber.
Estranha e
inusitadamente, o sentido desta morte aproxima várias personagens na trama,
como era o caso de Antonio Arpetti, conhecido por Peppe Harpo, um médico
erradicado da ordem por receitar facilmente estupefacientes e que tocava agora
no clube nocturno, Tropical. No seguimento das tentativas de Spino em perceber as
relações entre Harpo e Kid, é-lhe
devolvida a seguinte pergunta: «e quem és tu para ti? Sabes que se um dia
quisesses sabê-lo tinhas de procurar à tua volta, reconstruir a tua identidade,
rebuscar gavetas velhas, recuperar testemunhos de outras pessoas, sabe-se lá
por onde, perdidas? Está tudo às escuras, tem de se ir às apalpadelas». A
partir desse momento, Spino reforça a vontade de investir, obstinadamente,
nessa demanda existencial de compreensão do sentido das (suas) coisas, que
tendo uma ordem natural não acontecem ao acaso. O acaso é precisamente isso:
apenas a nossa impossibilidade de perceber os verdadeiros nexos que unem as
coisas, mesmo que com os olhos sempre postos no fio do horizonte.
PALAVRAS-CHAVE:
Identidade, fio do horizonte, possibilidades e incertezas, Spino,
existencialismo, acaso.
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