domingo, 12 de abril de 2015

O Fio do Horizonte

Autor: Antonio Tabucchi
Título: O fio do Horizonte
Editora: LeYa
Género: Romance policial
Edição: 1ª edição 2014 <1986
100 páginas






Resumo:

“O fio do horizonte é um lugar geométrico, porque se desloca à medida que nós nos deslocamos com ele. Gostaria muito que por um sortilégio o meu personagem o tivesse alcançado porque também ele o tinha no olhar”, confessa Tabucchi, no paratexto, em nota à margem do livro. E este seu personagem era Spino, um médico legista, uma espécie de companheiro derradeiro, um tutor a posteriori impassível e objectivo, procurando, incansavelmente, a resposta para a distância que separa os vivos dos mortos.
A acção passa-se numa cidade italiana, que nunca nos é revelada, mas sabemos que é costeira e que tem o mar como pano de fundo, cuja presença é assídua e permanente nas cogitações, incógnitas e investigações de Spino, não só enquanto símbolo de uma vastidão impossível de abarcar como metáfora de uma imensidão impossível de descodificar e compreender. Os 20 pequenos capítulos encerram descrições minuciosas, fechadas numa acção que teima em se tornar estática, num enredo que teima em andar em contratempo sem nunca encontrar as informações satisfatórias e esclarecedoras o bastante, tal como a exacta medida da morte, sem pressa mas inexorável.
Um misterioso assassinato, um corpo desconhecido e incógnito que chega à morgue de Spino e do seu ajudante Pasquale, uma morte noticiada anonimamente no jornal Gazzetta del Mare e tolhida de todas as demais informações, despertam a curiosidade do médico legista e do seu amigo jornalista Corrado. Spino sente uma vontade crescente e inexplicável de reconstituir o fio do crime de Kid, assim vulgarmente chamado mas conhecido também por Carlo Nobodi, um nome igualmente falso, tirado do inglês «nobody». Porquê esta ânsia existencial pela descoberta do mistério? «Porque ele está morto e eu estou vivo», responde-nos Spino, rapidamente. Mas quem é este morto? Um isco inconsciente? Um isco conivente e conveniente? Um pobre tonto? Um tipo que não tinha nada a ver? Uma testemunha incómoda? Ou qualquer outra coisa ainda? Podia tratar-se de terrorismo, vinganças, jogadas, histórias secretas, chantagens mas Spino e o leitor nunca chegam a saber.
Estranha e inusitadamente, o sentido desta morte aproxima várias personagens na trama, como era o caso de Antonio Arpetti, conhecido por Peppe Harpo, um médico erradicado da ordem por receitar facilmente estupefacientes e que tocava agora no clube nocturno, Tropical. No seguimento das tentativas de Spino em perceber as relações entre  Harpo e Kid, é-lhe devolvida a seguinte pergunta: «e quem és tu para ti? Sabes que se um dia quisesses sabê-lo tinhas de procurar à tua volta, reconstruir a tua identidade, rebuscar gavetas velhas, recuperar testemunhos de outras pessoas, sabe-se lá por onde, perdidas? Está tudo às escuras, tem de se ir às apalpadelas». A partir desse momento, Spino reforça a vontade de investir, obstinadamente, nessa demanda existencial de compreensão do sentido das (suas) coisas, que tendo uma ordem natural não acontecem ao acaso. O acaso é precisamente isso: apenas a nossa impossibilidade de perceber os verdadeiros nexos que unem as coisas, mesmo que com os olhos sempre postos no fio do horizonte.

PALAVRAS-CHAVE: Identidade, fio do horizonte, possibilidades e incertezas, Spino, existencialismo, acaso.



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