Autor: Yasunary
Kawabata
Título: A
Beleza e a Tristeza
Género: Romance
Editora:
D. Quixote
1ª edição 2010
186 páginas
-Muitas
mulheres são infelizes por isso consolam-se com ilusões.
-Não
há nada de errado com elas?
-É
fácil para uma mulher enganar-se. Consegue fazer uma mulher enganar-se, não
consegue? (p.74)
Resumo: Oki Toshio é um escritor de
meia-idade que fez uma viagem a Kyoto para ouvir os sinos dos templos na noite
de Ano-Novo mas é motivado, sobretudo, pela nostalgia do passado e pelo desejo
de reencontrar Otoko, que fora sua amante vinte e quatro anos antes e agora com
quarenta é uma pintora de renome. Uma
garota de dezesseis anos é a obra que imortaliza este amor, um sucesso de
vendas, na qual Oki narra com requinte e preciosismo esta paixão com a então
adolescente mesmo já estando casado com Fumiko, uma mulher que por sua vez nos inquieta
pela tristeza, pela sujeição e consentimento de tudo. “Ao aproximar-se dos
quarenta Otoko questionava-se se o facto de Oki permanecer dentro dela
significava que aquele riacho de tempo estava estagnado e não fluía. Ou a
imagem que tinha dele fluíra com ela ao longo do tempo, como uma flor à revia
num rio? Como ela fluía ao longo do riacho de tempo dele, era algo que não sabia.
Embora não a pudesse ter esquecido o tempo teria pelo menos fluído de maneira
diferente para ele. Mesmo se duas pessoas eram amantes, os seus riachos de tempo
nunca seriam iguais” (p. 14). Otoko nunca mais se envolvera com nenhum homem depois de Oki e vive agora com a sua
aprendiz Keiko Sakami com quem mantém uma relação amorosa. Esta mulher é impetuosa e impiedosa,
obstinada, dissimulada, amoral, perversa e em nome do amor que dedica a Otoko decide vingá-la seduzindo o filho de Oki, Taichiro, que se envolve nesta teia inesperadamente e que se torna talvez a maior vítima deste jogo. “Otoko perguntou-se se as mulheres
seriam mais teimosas umas para as outras do que em relação aos homens e
sentiu-se de novo atingida pela sua antiga sensação de culpa. Teria sido ela a
ensinar a Keiko como infligir dor?” (p.106). Keiko é o móbil de toda a acção desviando o olhar de qualquer leitor que se queira focar no romance interrompido
entre Otoko e Oki.
Y. Kawabata (1899-1972) constrói
um universo enredado por esta personagem profundamente erótica, maliciosa, obsessiva,
ciumenta e descreve este perfil perturbado e perturbador com uma serenidade
desconcertante e limpidez de linguagem. A transparência com que se desvelam todos
estes afectos distorcidos e pecaminosos, a manipulação entre as personagens e a
crueldade que as envolve representam o mérito deste romance, que termina sob o
olhar incrédulo de qualquer leitor.
“A beleza e a tristeza” é por isso um título
demasiado vago para abarcar a profundidade do erotismo, da maldade, da
vingança, do ciúme, da perversão, da culpa, de tantos pensamentos e impulsos de
suicídio e homicídio mas acima de tudo, é um título inexpressivo para denominar a insuperabilidade
das perdas ao longo do romance.Talvez a beleza não seja assim tão etérea e talvez a tristeza usurpe um outro lugar, o da desistência e o da rendição: “Uma vez quando estavam a fazer amor, Otoko gemeu
delirante e suplicou-lhe que parasse. Oki soltou-a e ela abriu os olhos. Tinha
as pupilas dilatadas e a brilhar.-Mal te consigo ver Sonny-boy. O teu rosto parece
desfocado, como se estivesse debaixo de um riacho. –Mesmo num momento daqueles,
ela chamava-lhe «Sonny-boy» - Sabes se morresses eu não conseguia continuar
viva. Não conseguiria! –Lágrimas brilharam nos cantos dos olhos de Otoko. Não
eram lágrimas de tristeza mas de rendição» (p. 146)
Palavras-chave: vingança, traição, erotismo,
obsessão, rendição