Autor: Alice Munro
Título: Amada Vida
Género: Contos
Editora: Relógio d’Água
1ª edição 2013
265 Páginas
«O
essencial é ser feliz», disse ele. «Não importa em quê. Faz um esforço nesse
sentido. Vais ver que és capaz. Com o tempo, torna-se cada vez mais fácil. Não
depende em nada das circunstâncias…e de repente estás apenas ali, a caminhar
serenamente no mundo»,
Alice
Munro, Amada Vida, p.95.
Resumo:
Alice
Munro nasceu na província canadiana de Ontário, em 1931, e em 2013 foi reconhecida com o Prémio Nobel da Literatura, atribuído pela Academia Sueca, que a define como
uma “mestre do conto contemporâneo”. Galardoada com muitos outros prémios e reconhecimentos
ao longo da sua vida, quando recebeu o Man
Booker International Prize, o júri justificou a escolha dizendo: “embora seja
essencialmente conhecida como contista, mostra uma profundidade, sabedoria e
precisão que a maior parte dos ficcionistas só consegue alcançar numa vida
inteira a escrever romances”.
O
enredo das suas histórias é relativamente secundário pois o que enriquece o seu
universo ficcional é o desfile de personagens comuns e de assuntos triviais, cuja força e
impacto residem na crueza dos problemas e na simplicidade da sua manifestação. Quase
todos os seus contos têm como cenário a região sudoeste da província canadiana
de Ontário mas poderiam ter-se passado em qualquer aldeia ou espaço remoto, desde que fora do cenário cosmopolita das grandes cidades. Talvez seja esta a fórmula
mágica de Alice Munro: desviar a atenção do leitor das movimentações citadinas
e alienantes, diluindo a história para fazer sobressair as nuances e
complexidades das personagens. Desta forma, o leitor rapidamente se projecta num
exercício de alteridade, de entendimento e empatia com as personagens e com as suas
dores.
Em
Amada Vida, a autora brinda-nos com
uma antologia de catorze contos, alguns já anteriormente publicados no The New Yorker ou The Paris Review. Curiosamente os últimos quatro contos, a autora
agrupa-os num rol muito particular e que pelas suas próprias palavras “formam
um conjunto à parte, autobiográfico no sentimento, embora nem sempre no que
concerne aos factos. Penso que são as primeiras e últimas –e mais íntimas –
coisas que tenho a dizer sobre a minha vida”. Encontramos
a chave de leitura desta antologia precisamente quando somos convidados a
entrar pela “intimidade da autora” e quando nos apercebermos que o realismo e a
afectividade com que, lúcida e avassaladoramente, descreve a (sua) realidade são exactamente
os mesmos que lemos deste o início da obra. Assim, desde a primeira à última
página, com mais ou menos ficcionalidade, com mais ou menos tons
autobiográficos, a verdade é que nos cremos leitores da veracidade e do verosímil.
A essência da amada vida é revelada pelo fluxo intravável e surpreendente dos acontecimentos, seja no seguimento de um encontro casual, de uma acção não realizada, de um impulso imprevisível e irracional, e todos os episódios são cerzidos entre o imaginário e o real. Sentimentos mais obscuros, puníveis e silenciados como a culpa, o arrependimento, a revolta, o castigo assim como as forças tanáticas que podem surgir, imprevisivelmente, até de uma criança são descritos com a naturalidade de qualquer faits divers sem julgamentos, sem moralismos.Quando chegamos à última página esta certeza pesa juntamente com a consciência de que, acima de tudo, a vida pode ser amada porque representa uma possibilidade permanente de reconciliação (nossa com o mundo ou simplesmente connosco próprios). Mesmo quando uma filha/autora acompanha a doença de Parkinson da mãe, (ultra)passa por todos os dramas inerentes à perda de alguém que ama...e ainda assim se vê impedida de estar presente no seu funeral, não há dor que não se apazigue. Pergunta-se o leitor: mas como é que nos podemos reconciliar com tamanha omissão? Alice Munro responde: «Dizemos que certas coisas não têm perdão – ou que nunca nos perdoaremos a nós próprios. Mas a verdade é que perdoamos – e fazemo-lo a todo o momento.».
A essência da amada vida é revelada pelo fluxo intravável e surpreendente dos acontecimentos, seja no seguimento de um encontro casual, de uma acção não realizada, de um impulso imprevisível e irracional, e todos os episódios são cerzidos entre o imaginário e o real. Sentimentos mais obscuros, puníveis e silenciados como a culpa, o arrependimento, a revolta, o castigo assim como as forças tanáticas que podem surgir, imprevisivelmente, até de uma criança são descritos com a naturalidade de qualquer faits divers sem julgamentos, sem moralismos.Quando chegamos à última página esta certeza pesa juntamente com a consciência de que, acima de tudo, a vida pode ser amada porque representa uma possibilidade permanente de reconciliação (nossa com o mundo ou simplesmente connosco próprios). Mesmo quando uma filha/autora acompanha a doença de Parkinson da mãe, (ultra)passa por todos os dramas inerentes à perda de alguém que ama...e ainda assim se vê impedida de estar presente no seu funeral, não há dor que não se apazigue. Pergunta-se o leitor: mas como é que nos podemos reconciliar com tamanha omissão? Alice Munro responde: «Dizemos que certas coisas não têm perdão – ou que nunca nos perdoaremos a nós próprios. Mas a verdade é que perdoamos – e fazemo-lo a todo o momento.».
Índice dos contos:
PARA
CHEGAR AO JAPÃO
AMUNDSEN
SAIR
DE MAVERLEY
SAIBRO
PORTO
DE ABRIGO
ORGULHO
CORRIE
COMBOIO
À
VISTA DO LAGO
DOLLY
O
OLHO
NOITE
VOZES
AMADA
VIDA
Palavras chave:
sofrimento, reconciliação, fuga, encontro, aventura, imprevisto.