Autor: Wenceslau de Moraes
Título: Paisagens da China e do Japão
Género: Contos
Editora: Livros de Bordo
2014
235
páginas
«E concluí que a felicidade humana seria coisa fácil, se uma impulsão sagaz do espírito fosse guiando sempre os nossos passos no mundo»
«É hoje indiscutível que a caricatura representa um meio altamente poderoso de impressionar os homens; estude-se-lhe os efeitos, por exemplo, na polémica dos princípios, onde ela vale pela mais possante picareta demolidora das instituições, dos tronos e das crenças, rasgando a estrada nova por onde investem os partidos avançados».
Resumo: A editora Livros de Bordo apresenta a reedição de Paisagens da China e do Japão, a partir da segunda edição póstuma
do livro, impressa pela Empresa Literária Fluminense, no ano de 1938. A
presente edição corresponde à terceira feita em Portugal do livro de Wenceslau
de Moraes (1854-1929), a primeira data de 1906 (Livraria Tavares Cardoso) e a
segunda foi publicada em 1938. Estas paisagens são um conjunto de contos, assim
designadas pelo autor, escritos em Macau e no Japão. O livro é dedicado a dois
dos professores que com ele fizeram parte do grupo de docentes do Liceu de
Macau, que inaugurou em 1893: João Pereira Vasco e Camilo Pessanha. Este
oficial da Marinha prestou serviço em Moçambique, Macau, Timor e Japão e quando
se fixara em Macau casou com a chinesa Vong-lo-Chan
com quem teve dois filhos mas que logo em 1898 abandona para se fixar
definitivamente como cônsul em Kobe, no Japão. Aí teve mais duas relações
amorosas com duas japonesas num constante exercício de «japonização».
Ao longo de dezassete contos
acompanhamos lendas, caricaturas, retratos deste Império do Sol Nascente percebendo
a simbiose clara entre mito e natureza, dentro de uma inusitada fauna falante –
rãs, macacos, alforrecas, formigas, borboletas – e flora luxuriante, numa
expressão fulgurante, elegante e requintada. Wenceslau de Moraes apresenta-nos
os costumes do povo, os seus hábitos emoldurados no humorismo nipónico e numa
pintura detalhadamente descritiva e sinestésica: “a paisagem extravagante,
inverosímil, inacreditável, das porcelanas e charões, hoje divulgada em toda a
parte, é com efeito a paisagem real deste Japão. Colinas, penedias, verdes
planícies, lagos, cascatas, torrentes espumantes, ribeiras dormentes, vales
profundos, mares interiores salpicados de ilhas e rochedos, tudo reduzido a
miniaturas graciosíssimas, reunido em grupos incongruentes e projectado em
fundos de céu estupendamente coloridos, eis o que os olhos abrangem num
relance». Wenceslau convence-nos de que a história japonesa é cerzida pelo
povo, pela colaboração das velhas e das raparigas e de uma certa intuição
sentimental das massas, nesta tendência rústica que alimenta o milagre, a
maravilha e o inverosímil. Ao mesmo tempo, o japonês não é quimérico, apenas
tece graciosas fabulações e aventuras dos seus homens ilustres, sob o
arrebatamento das belezas naturais do país.
Fica-nos a lição de que esta alma
asiática, subtilmente motejadora e sarcástica não se define, não se explica nem
tão pouco se caracteriza e por isso é que hostiliza o intruso porque para
assimilar a harmonia desta criação são exigidas as seguintes condições
inseparáveis: o sentimento nacional e uma fluidez de espírito e serenidade de
consciência. Em suma, finalizemos com as palavras do autor: «o que o tempo e a
experiência me têm dado a conhecer, é a convicção profunda da incompatibilidade
absoluta entre tudo isto e o europeu; o Japão é dos japoneses e só dos
japoneses, o europeu é como um pingo de azeite dentro de água; conserva-se aqui
sempre isolado, não se assimila ao meio. Porquê? Por dissemelhanças
irreconciliáveis do sentir, da educação, dos hábitos, por essa invencível
barreira que se define em três palavras, a – diferença de raças.
Palavras-chave: cultura asiática, paisagens
naturais, caricaturas, mitos e lendas