terça-feira, 1 de setembro de 2015

Paisagens da China e do Japão

Autor: Wenceslau de Moraes
Título: Paisagens da China e do Japão
Género: Contos
Editora: Livros de Bordo
2014
235 páginas





«E concluí que a felicidade humana seria coisa fácil, se uma impulsão sagaz do espírito fosse guiando sempre os nossos passos no mundo»

«É hoje indiscutível que a caricatura representa um meio altamente poderoso de impressionar os homens; estude-se-lhe os efeitos, por exemplo, na polémica dos princípios, onde ela vale pela mais possante picareta demolidora das instituições, dos tronos e das crenças, rasgando a estrada nova por onde investem os partidos avançados».

Resumo: A editora Livros de Bordo apresenta a reedição de Paisagens da China e do Japão, a partir da segunda edição póstuma do livro, impressa pela Empresa Literária Fluminense, no ano de 1938. A presente edição corresponde à terceira feita em Portugal do livro de Wenceslau de Moraes (1854-1929), a primeira data de 1906 (Livraria Tavares Cardoso) e a segunda foi publicada em 1938. Estas paisagens são um conjunto de contos, assim designadas pelo autor, escritos em Macau e no Japão. O livro é dedicado a dois dos professores que com ele fizeram parte do grupo de docentes do Liceu de Macau, que inaugurou em 1893: João Pereira Vasco e Camilo Pessanha. Este oficial da Marinha prestou serviço em Moçambique, Macau, Timor e Japão e quando se fixara em Macau casou com a chinesa Vong-lo-Chan com quem teve dois filhos mas que logo em 1898 abandona para se fixar definitivamente como cônsul em Kobe, no Japão. Aí teve mais duas relações amorosas com duas japonesas num constante exercício de «japonização».
Ao longo de dezassete contos acompanhamos lendas, caricaturas, retratos deste Império do Sol Nascente percebendo a simbiose clara entre mito e natureza, dentro de uma inusitada fauna falante – rãs, macacos, alforrecas, formigas, borboletas – e flora luxuriante, numa expressão fulgurante, elegante e requintada. Wenceslau de Moraes apresenta-nos os costumes do povo, os seus hábitos emoldurados no humorismo nipónico e numa pintura detalhadamente descritiva e sinestésica: “a paisagem extravagante, inverosímil, inacreditável, das porcelanas e charões, hoje divulgada em toda a parte, é com efeito a paisagem real deste Japão. Colinas, penedias, verdes planícies, lagos, cascatas, torrentes espumantes, ribeiras dormentes, vales profundos, mares interiores salpicados de ilhas e rochedos, tudo reduzido a miniaturas graciosíssimas, reunido em grupos incongruentes e projectado em fundos de céu estupendamente coloridos, eis o que os olhos abrangem num relance». Wenceslau convence-nos de que a história japonesa é cerzida pelo povo, pela colaboração das velhas e das raparigas e de uma certa intuição sentimental das massas, nesta tendência rústica que alimenta o milagre, a maravilha e o inverosímil. Ao mesmo tempo, o japonês não é quimérico, apenas tece graciosas fabulações e aventuras dos seus homens ilustres, sob o arrebatamento das belezas naturais do país.
Fica-nos a lição de que esta alma asiática, subtilmente motejadora e sarcástica não se define, não se explica nem tão pouco se caracteriza e por isso é que hostiliza o intruso porque para assimilar a harmonia desta criação são exigidas as seguintes condições inseparáveis: o sentimento nacional e uma fluidez de espírito e serenidade de consciência. Em suma, finalizemos com as palavras do autor: «o que o tempo e a experiência me têm dado a conhecer, é a convicção profunda da incompatibilidade absoluta entre tudo isto e o europeu; o Japão é dos japoneses e só dos japoneses, o europeu é como um pingo de azeite dentro de água; conserva-se aqui sempre isolado, não se assimila ao meio. Porquê? Por dissemelhanças irreconciliáveis do sentir, da educação, dos hábitos, por essa invencível barreira que se define em três palavras, a – diferença de raças.


Palavras-chave: cultura asiática, paisagens naturais, caricaturas, mitos e lendas